Método original de ensino de música comemora 7 anos de sucesso
Na música, como na vida, sentir o ritmo é fundamental. Mas não é coisa fácil e leva tempo para aprender. Na maioria das vezes, não temos consciência dele ou só o percebemos com alguma dificuldade: seja o ritmo que marca um compasso musical, seja o que vai por dentro do nosso corpo, a respiração, os batimentos cardíacos, o próprio caminhar.
Lucas Ciavatta, que é professor de música há quase dez anos e elaborou o método chamado "o passo", sabe disso como ninguém. É que, como professor, ele se deparou com a dificuldade de um ou outro aluno (e, às vezes, também a sua própria) de "pegar o ritmo". Com o tempo, essa dificuldade de ensinar e aprender foi crescendo e se transformando num desafio, que fez Lucas começar a investigar. Depois de muita pesquisa, finalmente ele teve um "insight": e se usasse o próprio passo como recurso de percepção do ritmo? A ideia funcionou e aos passos foram adicionadas, também, palmas. Nascia, assim, um novo método de ensino de música, que está completando 7 anos de vida bem vividos. Na verdade, diz Lucas: "A gente não ensina o passo, a gente ensina música, e usa o passo para que a pessoa possa entender, ritmicamente, a música".
Para difundir a sua descoberta, no último dia 4 de dezembro ele reuniu, no Teatro do Jóquei, alunos e amigos, além do seu próprio grupo, o Bloco do Passo - formado por 25 adolescentes -, para lançar o livro O Passo - a pulsação e o ensino-aprendizagem de ritmos. Mas, mais do que o lançamento de um livro (que, aliás, ficou para o final do evento), a noite era de celebração!
"Hoje vai ter muito improviso", avisou Lucas, que comandou toda a festa, com direito, é claro, a música da melhor qualidade. "Não tem nada terminado, o livro é a materialização de um momento. Mas a gente continua pesquisando, e o que a gente consegue investigar é cada vez mais profundo", diz o regente do Bloco do Passo, reforçando o caráter de experimentação e de pesquisa que já é marca registrada do grupo e de seu diretor.
Para abrir as apresentações, o Bloco, anfitrião do evento, mostrou duas vibrantes levadas de maracatu, em que os músicos cantam e tocam diversos instrumentos de percussão. Outra característica do grupo é a variedade de ritmos, em especial aqueles que fazem parte da cultura musical brasileira. São eles o afoxé, a ciranda, o samba, o maracatu, o funk, o baião e o xote, entre outros.
Em seguida, o Bloco do Passo emocionou o público que lotava o Teatro - inclusive ocupando de pé os corredores laterais - com um arranjo de "Asa Branca" para vozes, palmas e passos, em que os integrantes do grupo dançavam dentro de cirandas, uma ao redor da outra, no centro do palco.
Depois deles, foi a vez da "Turma Tupiniquim", grupo de crianças de 7 anos, da classe de alfabetização da Escola Oga Mitá, alunos da professora Luciana, seguidora do método elaborado por Lucas. Com passos marcados, palmas e o encanto das vozes infantis, eles hipnotizaram a plateia, também com uma ciranda. Entre os "Tupiniquins" estava Isabela, filha de Lucas e que, como ele conta, foi gerada e nasceu no mesmo tempo do método.
Tanto o nascimento da filha como o "insight" ocorreram no final de 1996. A data marca o início, o desabrochar da metodologia que representou uma mudança radical no ensino de música, na opinião de especialistas. Para Celso Alvim, diretor do Monobloco, um dos mais festejados blocos de carnaval de rua do Rio, as pessoas estão fazendo música com mais consistência a partir do "passo". "É só você, seu passo, palmas e voz", diz o regente, que também é professor de música e teve Lucas como seu aluno de percussão. Hoje, o método está sendo aplicado por diversos professores e já forma inúmeros discípulos em todo o Brasil.
É o caso de Felipe Reijnick, um dos jovens integrantes do Bloco do Passo, que já é professor do grupo de percussão da escola Cambaúba, na Ilha do Governador, e fez sua estreia como regente no palco do Teatro do Jóquei, na mesma noite. Na apresentação, o grupo - que ainda não tem um nome e é formado por meninos e meninas com idades entre 10 e 12 anos - também arrancou aplausos e assobios do público com a apresentação de seus dotes rítmicos, no uso de instrumentos de percussão.
Depois, foi a vez dos adultos: primeiro, o grupo de musicoterapia do Conservatório Brasileiro de Música (CBM) e, em seguida, o grupo do curso de extensão "A Enfermaria do Riso", da Uni-Rio, onde Lucas também é professor. A exemplo das apresentações anteriores, essas foram marcadas pela informalidade e por uma indisfarçável alegria e prazer de estarem ali, por parte dos músicos, que afinal estavam usando apenas o instrumento que Deus lhes deu, o corpo, para fazerem boa música.
Antes de entrar no palco, o diretor do Monobloco fez um pequeno discurso, exaltando as qualidades do método. Afinal, ele também é professor e muitas vezes viu alunos desistirem de aprender música, por acreditarem que "não levavam jeito para a coisa". E, na maioria das vezes, a maior dificuldade, que acabava por fazê-los desistir, era entender o ritmo. Celso Alvim traduz um sentimento comum a quem participou desses 7 anos do Passo e que nota na qualidade do trabalho apresentado: pelo menos à primeira vista, Lucas Ciavatta faz acreditar que qualquer pessoa pode aprender música, ouvindo a si mesmo e aos outros.
O final ficou por conta do samba encorpado do Monobloco, que fez a plateia se sacudir na arquibancada do teatro. E, para a despedida, apoteótica, já passando das dez da noite, o Bloco do Passo voltou ao palco, com a participação mais do que especial de Isabela Ciavatta entre os agogôs.
O Passo mantém um site (http://www.opasso.com.br) em que Lucas explica, sem fazer mistério, o método e os exercícios para aplicá-lo, para que qualquer professor de música tenha acesso a esse conhecimento e possa fazer uso dele com seus alunos. E para quem quer conhecer "ao vivo e a cores" o trabalho do Bloco do Passo, o grupo convida para a próxima apresentação, agora, nos dias 12, 13 e 14 de dezembro, no SESC Copacabana (Rua Domingos Ferreira, 160). Vale a pena, é música de primeira!
http://www.educacaopublica.rj.gov.br/jornal/materias/0157.html
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